
A importância do original
A importância do original
(Imagem 1: Banksy para Louis Vuitton)
Faz-se necessária a análise da sociedade em alguns pontos de vista variados; como se comporta, como pensa, como consome, como interagem com os objetos de desejo e quais são as noções afetivas que esses lhes causam.
O desejo de conquistar o luxuoso vem da ambição de ser exclusivo, ser tão restrito e selecionado, que desperta o anseio de fazer parte desse sistema. Como boa parte da população não tem condições monetárias de participar de tal universo, o anseio torna-se uma frustração, restando assim às cópias como forma de aproximação de tal desejo.
Precisamos salientar ainda que, a falsificação obedece a lógica capitalista moderna, que nos diz: "-Onde há procura, há oferta". Por isso, enquanto houver a demanda por produtos desse tipo, será impossível, por exemplo, impedir sua reprodução e comercialização.
O consumidor que adquire esse tipo de produto, jamais poderá dizer, que possui tal símbolo de status e poder como uma bolsa Louis Vuitton, estará apenas enganando a si mesmo. Ainda que as pessoas não notem que se trata de uma falsificação, o dono da bolsa sabe, e isso, por si só é relevante. Em contra partida a isso, é possível legitimar, por exemplo, uma mulher abastada utilizando tal objeto em seu dia-a-dia, enquanto causa certa rejeição, uma outra, menos privilegiada, enfrentando sua dupla jornada de trabalho em um ônibus cheio.


Ilustração 2: Inspirado no processo judicial que a artista Nadia Plesner ganhou da Louis Vuitton. Ilustração 3: Autor desconhecido.
Trajes incoerentes com a identidade visual da marca tal, como estilo de vida levada por muitas dessas mulheres que consomem cópias, vão diretamente à contramão do DNA de uma grife de peso como a Louis Vuitton, que é mundialmente reconhecida por exclusividade e por seu seleto público.
É possível perceber ainda, outro fator relevante nos consumidores de bolsas Louis Vuitton legítima. Pode-se dizer que boa parte desse público é constituído por 'novos ricos', onde a bolsa é compreendida como um coadjuvante de peso na ostentação do novo status social. Costumam prezar por modelos relativamente grandes, bastante chamativos e nada discretos, pura e simplesmente para reafirmar a posição que ocupa no universo do consumo luxuoso.
Seria de bom tom, por exemplo, que o grande público consumidor desse tipo de produto, antes mesmo de adquiri-lo, analisasse seu estilo próprio e assim, concluir se um elemento com uma Louis Vuitton original ou não, condiz com seu feitio e posição social.

Ilustração 4 : Darfurnica,Nadia Plesner. 2011
Vivemos em um contexto mundial onde estamos sempre inquietos, para produzir, para prosperar para consumir. Porém muitas pessoas nos dias de hoje, querem se inserir em um mundo no qual não fazem parte. Quando na verdade, a coerência nos diz que devemos adquirir bens materiais de acordo com as nossas condições financeiras, e dessa forma, não caímos nos clichês contemporâneos, aparentando uma posição social que talvez não possuímos de fato.
Adolescente em 2011, nem sonhava em estudar moda, comprei uma única cópia na minha vida: uma pequena 'Victor Hugo' de zíper. Gastei 'muito pouco' e usei algumas vezes, feliz da vida. Aquela seria A bolsa perfeita para ir ao Rock in Rio. Lembro até hoje da sensação de vigilância que eu mesma criei, sentia os olhares de reprovação. A cópia era 'boa'? Foi coisa da minha cabeça? Não sei. Prometi, naquele dia, nunca mais passar novamente pela 'experiência'. A tal bolsa foi embora. Já na faculdade de moda compreendi tanto esse consumo e suas problemáticas, quanto à desvalorização da arte e do trabalho dos designers.
Há algum tempo observamos cada vez mais as grandes maisons trabalharem muito bem os modelos menores, sob intenso requinte de acabamentos visíveis, e marcas do trabalho artesanal. Nossas pesquisas de moda já apontavam para tais movimentações do consumo luxuoso. E o que está por vir com o 'novo normal'? Assuntos e mais assuntos para trabalharmos!
Links relacionados:
https://www.vogue.com/vogueworld/article/bad-bunny-billy-eilish-imran-potato-louis-vuitton
https://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/09/19-lojas-da-paulista-vendem-bolsas-piratas-por-ate-r-3-mil-diz-relatorio.html
https://emais.estadao.com.br/noticias/moda-e-beleza,louis-vuitton-gucci-e-prada-enfrentam-problemas-por-se-popularizarem,1716290
Redação: Núria Bernardi / @nubrd
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